Sábado, 20 de Março de 2010


PROGRAMA À ESQUERDA, GOVERNAÇÃO À DIREITA

 

Ainda que, confessamente, não tenha lido o programa eleitoral do PS para a presente legislatura será obvio, por demais, que a sua linha de construção tenha sido tendencialmente de esquerda procurando não só respeitar a sua matriz ideológica como, também, demarcar-se de uma direita que, garantidamente poucos votos lhe daria. Quis, por tanto, ser fiel a si mesmo e “roubar votos” aos partidos políticos à sua esquerda. Em primeiro lugar, venceu. Sem maioria absoluta, é certo, mas venceu. Resultado da estratégia definida no programa, no seu verdadeiro sentido, resultado de imagem ou por descrédito das alternativas não se saberá muito bem. Estou no entanto convicto que a que pesou menos, num país inegavelmente inculto, terá sido o programa eleitoral.
 

 

Como foi já frisado também eu não li o programa eleitoral. Em boa verdade pode até ter sido indispensável. Fui acompanhando e, como seria de esperar, foi entendível um plano à lá PS, ou seja, feito de preocupações sociais, protecção ao trabalhador, investimento público e manutenção do seu peso na economia à boa maneira da sua matriz.
 

No entanto o que se tem visto tem sido, de todo, um esquecimento desse seu programa, resultado, alegadamente, da crise internacional, quebra de confiança dos mercados internacionais e necessidade de cumprimento das metas estabelecidas no Pacto de Estabilidade e Crescimento definido pelo Eurosistema. Tudo isto veio, volto a frisar, alegadamente, a merecer a necessidade de consenso alargado implicando sucessivos recuos de intenção do partido socialista face às exigências do PSD e do CDS-PP. Obviamente que isso implica e justifica o conhecido desvirtuar da programação PS. Apesar de tudo aplaudo a atitude de um PS que tem tentado o diálogo. No entanto há que perceber que na procura de agradar a todos e atender a uma multiplicidade de objectivos também as restrições aumentam na mesma proporção que as distracções políticas.
 

Hoje, como todos sabemos, este desvirtuar de ideologia do PS, desde o orçamento de estado, e a obsessão pelo cumprimento das metas europeias, foi motivo de uma proposta do PEC completamente fora do contexto de esquerda por si proclamado em eleições. Veja-se os cortes e limitações sobre os subsídios de acção social sem carga contributiva. Proclamou-se o aumento da protecção dos desempregados e das famílias carenciadas, hoje reclamam-se medidas contra-natura do PS que desprotegem o desempregado. Mais, privatizar as boas empresas, as que dão lucro ao Estado e contribuem para a redução do deficit, não me parece de um governo socialista. De facto não o é, até porque tem sido um governo PS-PSD-CDS. De socialismo não poderia ter muito. Tudo isto para reduzir a despesa. Apenas para falar no mais polémico…
 

Apesar de tudo há neste PEC coisas acertadas que, apesar de serem antipopulares, devem ser coordenadas de forma vigorosa. Crescimento salarial abaixo da inflação esperada. Isto parece que tem já em linha de conta a baixa de produtividade e, assim sendo, faz todo o sentido remunerar o trabalho decrescente com salários reais igualmente decrescentes. Não obstante Preocupa-me bastante que, pela forma indiscriminada como isso foi indicado, se afecte a classe baixa com reflexos complexos e duradouros no poder de compra e agravamento das situações de carência. Parece-me mais justo escalonar as taxas de crescimento nominal dos salários, penalizando mais a classe alta e média-alta. Salvaguardo, no entanto, que percebo a medida que, como tive já oportunidade de o referir noutro post, vem no seguimento das indicações do FMI. Apenas julgo merecer uma reflexão mais atenta em matéria particularmente sensível.
 

Em relação ao anuncio de não aumento de impostos permitam-me dizer que o Primeiro Ministro não ficou bem na fotografia. A verdade é que não haverá aumento de taxas de imposto, mas haverá efectivamente um aumento da carga fiscal de tal modo que, em sede de IRS, esse aumento de carga fiscal poderá chegar aos 700euros/anos para o escalão mais elevado, segundo dados do BP. Isto não é aumento de impostos?! E mesmo em relação ao não aumento de taxas de imposto isso é igualmente discutível, já que se sabe da criação de mais um escalão do IRS que fixa nova taxa máxima em 45%. Percebo a necessidade em minimizar as deduções fiscalmente aceites e aumentar a liquidação de imposto, só não percebo a falta de honestidade. Ficaria melhor ao meu primeiro-ministro mostrar claramente o objectivo traçado em vez de se aproveitar da ignorância crónica do nosso povo.
 

Admito muitas críticas à proposta do PEC, que sinceramente julgo que ainda vai sofrer alguns acertos pontuais, mas com uma oposição tão fraca e oportunista quanto a que se conhece torna-se mais difícil concentrar atenções no que realmente é merecedor de reflexão e ponderação política, social e económica.

 

 

 

LEI DA ROLHA
 

 

O PSD aprovou a “Lei da Rolha” proposta pelo ex-primeiro ministro Santana Lopes. Numa palavra: Ridículo.
 

A “Lei da Rolha” vem basicamente dizer-nos: calem-se as vozes que desestabilizam o partido, calem-se as vozes dos “democratas” para que se saia e suba à “cadeira-maior” do partido tranquilamente e sem grandes sobressaltos. Deixem para época de eleições legislativas as críticas aberrantes que aí sim não haverão problemas de maior! Sinceramente….repetindo-me: RIDICULO. No Poder, a conseguirem merecê-lo, quererão a lei do amigo Óscar Bruno (OB)? Aquele da zona tampão…!!!???
 

publicado por Fábio Duarte às 02:35

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