Abeirou-se O Dia…bem cedo, por sinal!
Aquilo a que chamaram, um dia, de coração não mais bombeia.
Não oiço minha voz, ninguém mais ouve.
Ceguei com intensa luz que deveria ser de esperança…
Mas que estranha essa esperança. Como poderei eu tê-la a sete palmos de terra, se bem medidos, onde, sei, jamais alguém virá buscar-me tal qual como me abandonaram?
Resta-me fazer uso da mais proclamada virtude do Homem, em vida, para sair deste caixote tão desconfortável: esperar. Talvez tenha uma eternidade, ou várias, para o fazer. Esperarei, se houver todo esse tempo, que alguém queira tomar meu lugar, neste jardim que resiste às estações do ano, de tantos floreados plastificados e de abundante estrume que suporta os ramos que o não são. Talvez seja tarde, endoidecerei de certo. Propusera eu ser lenha que os aquecesse, porque estrume nada lhes traz, e ninguém me ouvira! Que jeito me trazia a leveza do corpo e as características de segregação física capaz de me tornar omnipresente. Mas hoje, como antes, ninguém parece ouvir-me.
Porque me enterram aqueles que por mim choram e me amam, verdadeiramente? Porque querem inferiorizar-me e punir-me em perpétua prisão? Só Tu parece quereres dar-me a mão, a direita que, por sua companhia, se tornou tão forte quão mencionada pelos Igrejos. Abdicando de profanações, declaro desistência e a Ti me entrego, como outrora, dizem, Teu filho fez. Entrego-me agora a Ti que me julgarás sem que, contudo, mal algum Te tenha infligido. Não Te temo, ninguém Te teme realmente, porque à margem da alma nada mais tenho a perder! Minha família, meus amigos…perdi todos! E para que quererei eu minha alma sem corpo que a manifeste?
Enfim, a Ti me dou.… e parto!